Pense por alguns instantes sobre as diferenças entre os seguintes relacionamentos que você possa ter:
- O recepcionista do hotel em que você se hospedou em sua última viagem.
- O estagiário que acabou de entrar em sua equipe, no escritório.
- Os conhecidos com os quais você praticamente só encontra em festas.
- Aquele amigo ou amiga que está com você na vitória ou na derrota.
Entre as várias diferenças, quero destacar uma: normalmente, quanto mais íntimo o relacionamento, maior o número de dores que ele já proporcionou e ainda proporcionará.
Estava pensando nisto outro dia, enquanto limpava uma de minhas gavetas. Organizando os materiais de escritório tive um de meus insights fora da caixa. Pensei em quatro materiais que usamos para manter papéis unidos:
- Clips.
- Grampos.
- Furos (para pasta A-Z).
- Encadernação (em espiral).
Sei que existem outros meios, mas vamos nos ater a estes aqui, para apoiar a visão que tive sobre relacionamentos.
Clips são usados para manter pequenas quantidades de folhas unidas por pouco tempo, podendo ser removidos rapidamente, sem machucar o papel. Nos relacionamos assim com a imensa maioria das pessoas que encontramos no dia a dia. Não temos laços de afinidade e muito menos de intimidade com os pedestres que esperam conosco o sinal abrir, com o frentista, com a caixa do mercado e com tantos outros seres humanos. Não há grandes decepções nem grandes mágoas destes relacionamentos, porque são superficiais e temporários como papéis unidos por um clip.
Grampos são usados para manter uma pequena quantidade de papel unida em uma determinada ordem, por um tempo bem maior que os clips podem manter. Quando grampeamos o canto superior direito de um documento, estamos garantindo que este mantenha-se íntegro pela maior parte do tempo possível. Este grampeamento fere todos os papéis com dois furinhos por onde passa um fino pedaço de metal. Para desfazer este vínculo precisamos recorrer a um extrator, que normalmente fere um pouco mais os papéis ao ser usado. Nos relacionamos com algumas pessoas desta forma: unidos enquanto temos algo em comum. Colegas de escritório são um exemplo. Não temos muita intimidade, mas estamos grampeados temporariamente por um grampo chamado empresa, ou projeto. Há alguns machucados causados pelos conflitos da convivência, joguinhos políticos e mal-entendidos. Quando alguém é extraído da equipe causa alguma dor, como se usássemos um extrator. No entanto, depois que uma nova folha é grampeada no lugar da antiga, novos vínculos são formados e, se houve cuidado de grampear o mais próximo possível de onde estavam os grampos originais, só a nova folha é machucada no processo de integração. Tudo volta a funcionar sem grandes mágoas e decepções.
Furos, por outro lado, são usados para documentos mais sérios, a serem armazenados em pastas A-Z nos arquivos da empresa e manipulados com cuidado. Estes dois furos machucam o papel de forma visível e traumática. Há relacionamentos que se formam assim. Amigos que passaram e passarão por nossa vida e que deixaram marcas em nossa história, em nossos arquivos mentais e emocionais. Pessoas com as quais convivemos e desenvolvemos um certo grau de amizade. Mas assim como os furos permitem que um papel, mesmo comprometido pelos furos, seja removido com facilidade, eventualmente estas amizades são removidas de nosso cotidiano. Colegas de faculdade ou de igreja com quem compartilhamos mais do que apenas um trabalho a ser entregue ou um estudo a ser desenvolvido, com quem eventualmente até houve um certo grau de intimidade. No entanto, quando esta intimidade atingiu um certo limite não deixamos que este fosse ultrapassado. Há amizade, há convivência, mas não deixamos que passe a ser um compromisso definitivo. São os amigos que estão conosco na coletividade, mas com quem não compartilhamos nossa intimidade. Há decepções, há desentendimentos, há memórias, mas não comprometem a integridade de nossa história pessoal.
Encadernações, finalmente, existem para manter livros inteiros de maneira definitiva. Há muitos furos e há um arame trespassando todos em espiral, fazendo com que remover uma folha seja um processo extremamente traumático e substitui-la seja muito difícil, por ser trabalhoso perfurar exatamente nos mesmos pontos da folha antiga. Encadernações não foram feitas para serem desmontadas, assim como certas amizades não foram construídas para serem desfeitas. Há pessoas em nossa vida que vieram para ficar a vida toda, cujos laços conosco extrapolam a amizade e passam a ser de irmandade. O preço para ter estas pessoas? Muitos furos, muito arame passando por cada furo. Muitas mágoas, muitas brigas, muitas decepções. No entanto, são todos estes furos que nos mantêm unidos formando o livro de nossas vidas, fazendo com que deixemos uma história em comum para ser folheada por aqueles que vierem depois de nós. Pessoas como estas não são removidas sem muita dor. Pessoas como estas podem até ter seu lugar preenchido por outra, mas não sem desalinhamento. Pessoas como esta estão unidas a nós porque, apesar dos furos que elas nos causam, nos lembram que não somos papéis a serem unidos por pouco tempo, estamos juntos por um propósito maior que nós mesmos.
Olhando em minha mesa vejo muitos clips e muitas folhas soltas, mas apenas algumas encadernações.
Olhando em minha vida, também vejo muitos relacionamentos soltos, temporários em maior ou menor grau, mas graças a Deus tenho algumas poucas encadernações que faço questão de guardar no arquivo de meu coração, para folhear sempre que preciso de uma história que me conforte, de um conselho que me oriente e de um questionamento que me redirecione.
E você? Quantos clips, quantos grampos, quantos furos e quantas encadernações tem em sua vida?
Reflita, comente e compartilhe esta ideia.
Deus te abençoe!
Breno Isernhagen
Palestrante, Coach e Master em PNL. Foca seus treinamentos na capacidade que o ser humano tem de sempre se reconstruir, não importa o que aconteça.
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